Série #MulheresdeCoragem do Sertão ao Desenvolvimento Urbano – confira a entrevista com Elisângela Santos Araújo

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Em comemoração ao mês das mulheres, a Liderança do Partido dos Trabalhadores na Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA), começa a série #MulheresdeCoragem do Sertão ao Desenvolvimento Urbano. O objetivo é contar histórias de mulheres que se destacam tanto no campo como na cidade, atuando em defesa dos direitos sociais, da igualdade de gênero e na luta contra a violência à mulher. A primeira entrevistada da série é Elisângela Santos Araújo. Confira abaixo o vídeo da nossa Deputada Estadual Fátima Nunes, responsável por indicar a história da homenageada, e em seguida leia a entrevista para conhecer a trajetória desta #MulherdeCoragem.

A mulher Elisângela Santos Araújo

Filha de agricultores familiares, Elisângela Santos Araújo nasceu no dia 29 de agosto de 1973, na cidade de São Domingos, Bahia, e cresceu na comunidade do Caititu com mais sete irmãos. Ainda adolescente, sofreu uma paralisia facial que a levou para São Paulo em busca de tratamento médico. Neste período, paralelo ao acompanhamento de sua saúde, dedicou-se ao movimento pastoral das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), e participava de atividades políticas dos movimentos sociais. Incentivada por padres e lideranças do movimento sindical rural, ingressou na militância no Território do Sisal. Tornou-se uma defensora na luta contra a desigualdade social e pelos direitos dos agricultores e agricultoras familiares e dos trabalhadores e trabalhadoras rurais do Brasil. Com uma forte experiência na luta pelo semiárido baiano, uma de suas bandeiras foi levar água para o povo do Nordeste. Destacou-se também na luta por ações voltadas para as mulheres na zona rural, como políticas de saúde, previdência social, fim da violência doméstica, delegacias para mulheres no campo, auxílio-maternidade, entre outras ações. Participou também do processo de reivindicação do PL N° 362, aprovado em 2014, garantindo aos agricultores e agricultoras mais prazo de carência para começar a pagar a terra em até 35 anos; o direito ao crédito fundiário para o acesso à terra; como também crédito PRONAF-Mulher pelo INCRA. Próxima do povo, Elisângela esteve na organização de associações e cooperativas para que os trabalhadores e trabalhadoras pudessem acessar programas como: Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Na política internacional, Elisângela Araújo participou ativamente de encontros e seminários internacionais a exemplo das conferências de Cancún, Copenhague e Rio+20, além do Fórum Social Mundial na Índia. Também participou de intercâmbios na Europa, em Cuba, América do Sul, Conferência da OMC – Organização Mundial do Comércio e FAO – Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura.

Trabalhadora, agricultora familiar e líder sindical, atualmente, é Diretora Executiva da Central Única dos Trabalhadores (CUT), coordenadora de Educação e Formação profissional da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (CONTRAF) e coordenadora do Fórum Baiano da Agricultura Familiar.

1- As mulheres são maioria da população brasileira, mas ainda assim vivemos em uma sociedade dominada pela cultura machista e patriarcal. Como mudar essa realidade?

É preciso que a luta contra a violência, a luta contra a desigualdade salarial, a luta contra a discriminação e preconceito sejam enfrentamentos permanentes até que tenhamos acabado com estes problemas sociais. Além disso, precisamos ter mulheres comprometidas com essas bandeiras nos representando no Congresso Nacional, pois só assim conseguiremos avançar nos nossos direitos e fortalecer políticas públicas que valorizem e empoderem mais as mulheres.

2- Como definir o papel da mulher na luta pelo reconhecimento do trabalho rural?

Hoje, as mulheres possuem um papel fundamental na produção de alimentos, pois 45% do trabalho passa pelas mãos das mulheres agricultoras familiares. Assim, somos protagonistas nessa produção. No entanto, precisamos ter mais reconhecimento e olharmos atentamente para as políticas públicas como uma forma de fortalecer esse potencial e fomentar a autonomia da mulher no campo.

3- Como as políticas de igualdade de gênero podem auxiliar as agricultoras familiares, visto que a jornada de trabalho dessas mulheres torna-se cada dia mais exaustiva?

As políticas de igualdade de gênero devem trazer por exemplo a igualdade salarial. Ainda existe uma diferença de 30% entre homens e mulheres, no passado essa diferença chegou a mais de 50%, e só avançamos graças às lutas, no entanto isso ainda é um desafio. Quando se fala em políticas de igualdade de gênero devemos considerar os aspectos e realidade destas mulheres. Por exemplo, não é justo que a mulher, para acessar o benefício da aposentadoria, tenha que trabalhar 10 anos a mais, como está proposto na reforma previdenciária. É relevante considerarmos que sua jornada de trabalho é dupla, na grande maioria. Portanto, para que as políticas de fato tenham efetividade, elas devem ter um olhar com o viés feminino.

4- Apesar de todo o processo discriminatório, a mulher rural é um agente de transformação e peça fundamental no desenvolvimento da agricultura familiar na Bahia e no Brasil. Como é o trabalho de empoderamento dessas mulheres no semiárido baiano?

Como coordenadora do Fórum Baiano da Agricultura Familiar, lutamos para que, cada vez mais, tenhamos políticas que valorizem o papel da mulher na sociedade. Podemos dar como exemplo o Minha Casa Minha Vida e o Bolsa Família. Ambos têm a mulher como beneficiária. Tais programas foram criados nos governos Lula e Dilma. Outro exemplo, é a construção da Casa da Mulher Brasileira, com diversos serviços especializados, entre eles de acolhimento e triagem; apoio psicossocial; delegacia; Juizado; Ministério Público, Defensoria Pública; promoção de autonomia econômica; cuidado das crianças – brinquedoteca; alojamento de passagem e central de transportes. Estas são políticas que incentivam, fomentam e ajudam no empoderamento da mulher. No nosso semiárido, as mulheres contam com algumas destas políticas. Dentre outras, temos a área do cooperativismo, agroindústria, artesanato. Recentemente, participei da inauguração de uma agroindústria do umbu na Bahia, liderado por mulheres agricultoras familiares que receberam apoio por meio do acesso ao crédito, a produção. Então, são políticas como essas que dão empoderamento a mulher e trazem qualidade de vida e trabalho, além do seu reconhecimento.

Elisângela Santos Araújo integrou a direção e coordenação de diversas entidades e organizações estaduais, nacionais e internacionais. Foi diretora e presidenta do SINTRAF de São Domingos; secretária do Departamento Rural; Diretora Estadual da CUT/Bahia; secretária de Organização Sindical e coordenadora da Secretaria Geral da FETRAF/Bahia. Em 2003, assumiu a função de Conselheira do CONSEA (Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional) e a coordenação do escritório da CUT/Nacional em Brasília. Neste período, contribuiu nos processos de implementação de programas sociais como o “Fome Zero”, e projetos sindicais direcionados à agricultura familiar. Durante oito anos, esteve à frente da Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras da Agricultura Familiar (FETRAF/BRASIL), atualmente CONTRAF BRASIL.

Acesse o site: www.elisangelaaraujo.com.br