Destruição ambiental: Amazônia Legal tem o maior desmatamento em 15 anos

174

A devastação ambiental no Brasil promovida pelo governo bolsonarista segue sem freios. Avesso à proteção da Amazônia e das Terras Indígenas (TI), Bolsonaro permitiu que, entre agosto de 2021 e julho de 2022, fossem derrubados 10.781 Km² de floresta da Amazônia Legal. O desmatamento é maior em 15 anos, segundo o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).

Os dados do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do instituto apontam ainda que essa foi a quarta vez seguida em que a degradação atingiu o maior patamar desde 2008, quando o Imazon iniciou o monitoramento com o SAD.

As áreas desmatadas são detectadas em imagens de satélite na região que corresponde a 59% do território brasileiro e engloba nove estados: Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e uma parte do Maranhão) e leva em conta degradações florestais ou desmatamentos que ocorreram em áreas a partir de um hectare, o que equivale a aproximadamente um campo de futebol.

A secretária Nacional de Meio Ambiente e Desenvolvimento do PT, Naiara Torres, ressalta que o descaso de Bolsonaro com a floresta em pé ocorre desde 2019, quando houve a desqualificação de instituições importantes como INPE, Ibama e ICMBio, além da retirada de recursos para combater o desmatamento na Amazônia. “Nesse governo, não se considera a ciência nem os dados sobre o desmatamento no país”.

Desmate no governo Bolsonaro é estável

De acordo com as informações do sistema Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), é o terceiro ano consecutivo que o desmatamento na Amazônia cresce no governo de Bolsonaro. O acumulado de alertas de desmatamento em 2022 na Amazônia foi de 8.590 km² e ficaram acima da marca de 8 mil.

“O aumento do desmatamento ameaça diretamente a vida dos povos e comunidades tradicionais e a manutenção da biodiversidade na Amazônia”, afirma Bianca Santos, pesquisadora do Imazon em entrevista ao G1.

A pesquisadora alerta ainda que relatórios da Organização das Nações Unidas (ONU) ressaltam que a devastação, “além de contribuir para a maior emissão de carbono em um período de crise climática”, também elevam as emissões de carbono e consequentemente resultam em fenômenos extremos como ondas de calor, secas e tempestades ainda mais frequentes e intensas. “Isso causará graves perdas tanto no campo, gerando prejuízos tanto para o agronegócio quanto para as cidades”, diz.

Amazonas, Acre e Rondônia lideram

Os Estados que mais tiveram desmatamento nos últimos 12 meses foram o Amazonas, Acre e Rondônia, com 36% de destruição das florestas na região conhecida como Amacro, onde grandes áreas desmatadas têm ocupado florestas públicas não destinadas e áreas protegidas.

De acordo com a pesquisadora Bianca Santos, “a Amacro precisa de ações urgentes de proteção, principalmente para evitar que as florestas públicas ainda não destinadas virem alvo de grilagem. E, também, para impedir que a destruição avance pelas áreas protegidas da região, como as terras indígenas e as unidades de conservação”.

Invasões e garimpo avançam 180%

Além da devastação da Amazônia, Bolsonaro permanece na promoção do garimpo em terras indígenas. As invasões aumentaram 180% em comparação com 2018, um ano antes do início da gestão de Bolsonaro.

Os dados são do relatório Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil lançado nesta quarta-feira (17) pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), órgão ligado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Em 2021, o Brasil registrou o recorde 305 casos de invasão, exploração ilegal e danos a 226 terras indígenas de 22 estados.

O documento aponta que 2021 pode ter sido “para muitos povos, o pior ano deste século”. É o sexto ano consecutivo que o levantamento registra aumento na quantidade de casos de violência contra povos indígenas, problema intensificados durante o atual governo.

Entre os povos mais afetados estão os yanomamis (em Roraima e no Amazonas), os mundurukus (Pará), os pataxós (Bahia), muras, (Amazonas), uru-eu-wau-waus e karipunas (Rondônia), chiquitanos (Mato Grosso) e kadiwéus (Mato Grosso do Sul).

Das 1.393 terras indígenas no Brasil, 871 (62%) seguem com pendências para regularização e, destas, 598 são áreas reivindicadas pelos povos indígenas que não contam com nenhuma providência do Estado para dar início ao processo de demarcação, conforme o relatório do Cimi.

Em entrevista à Folha de S. Paulo, um dos coordenadores do Cimi e do relatório, Roberto Liegbott, disse que não via uma situação tão vulnerável para os povos indígenas há 20 anos.

Ele cita os recordes de desmatamento e as políticas anti-indigenistas de Bolsonaro como fatores que influenciam os retrocessos nos direitos dos indígenas.

Liegbott ressalta ainda o presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Marcelo Xavier da Silva, como inimigo dos povos tradicionais. Xavier pediu a abertura de investigações contra defensores da pauta ambiental e é considerado favorável à pauta ruralista.

Aumento da violência e suicídios

Entre os inúmeros retrocessos incentivados por Bolsonaro no país, não bastasse as perdas ambientais para todos que habitam o planeta, o aumento da violência contra os indígenas é recorrente.

O relatório afirma que a ampliação quantitativa de casos e terras afetadas pela ação ilegal de garimpeiros, madeireiros, caçadores, pescadores e grileiros, foi simultânea à intensificação da prática de violência desses agentes nos territórios indígenas.

Na Terra Indígena (TI) Yanomami, onde atuam mais de 20 mil garimpeiros, há diversos registros de ataques armados contra as comunidades indígenas. No Pará, garimpeiros atacaram a sede de uma organização de mulheres indígenas e fizeram ameaças de mortes a lideranças.

O relatório, de 281 páginas, traz o detalhamento dos casos, a partir de notícias da imprensa e relatos colhidos pelo próprio Cimi, que incluem casos de feminicídio, dilaceramento, envenenamento, esfaqueamento, enforcamento e afogamento.

“A crueldade se identifica com o período mais brutal de colonização que o Brasil teve, e isso nos impactou muito. Há uma desumanização dos povos indígenas, uma identificação do ‘mau selvagem’ que precisa ser combatido, um ambiente que se criou muito por conta dos discursos de ódio disseminados pelo governo”, afirma Liegbott.

De acordo com o documento, em 2021, fontes públicas registraram 176 assassinatos de indígenas e o número de suicídios no ano passado foi de 148, o maior já registrado pelo Cimi.

Os registros totalizam 355 casos de violência contra pessoas indígenas em 2021, num aumento de 17% em relação a 2020. Os dados revelam o maior número registrado desde 2013, quando o PT governava o país.

Assassinatos de jovens e crianças

Jovens e crianças também são vítimas das atrocidades do governo bolsonarista, que impulsiona a extrema crueldade e brutalidade contra os povos tradicionais.

Em 2021, Raíssa Cabreira Guarani Kaiowá, 11 anos, e Daiane Griá Sales, 14, do povo Kaingang foram estupradas e assassinadas.

“O discurso do governo tem três características: primeiro, desumanizar, dizer que se pode invadir a terra porque esse sujeito não tem direito a ter direito; segundo, dizer que eles são improdutivos e, portanto, ‘ocupem os territórios e explorem’; terceiro, que eles são privilegiados no ambiente jurídico, que eles têm terras demais”, destaca o coordenador Roberto Liegbott.

Da Agência PT, com informações do G1 e Folha de S. Paulo