ARTIGO: POR UM NATAL SEM VENENO

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Nascimento: um dos princípios basilares da vida. No Natal, é o que, independentemente de qualquer crença religiosa, seja ela cristã ou não cristã, une a maioria de nós brasileiros num sentimento maior de fraternidade e solidariedade para com os nossos semelhantes. O nascer também nos reporta, nesse espírito natalino, àquilo que nos mantém vivos: à alimentação; à água; ao ar; à terra, ventre donde brota os nossos frutos. Entristece-nos, porém, como temos tratado essas nossas condições básicas de existência. Os alimentos e a água que estamos a ingerir estão nos sobrecarregando de químicas nocivas à vida. Vivemos, pois, um contrassenso: aquilo que nos alimenta e que sacia a nossa sede estão a nos envenenar.

Em razão tão somente de interesses da indústria química (do agronegócio, em particular), estamos submissos a um modelo de produção agrícola falho e ineficiente, no sentido de promover o bemestar social. À medida que esse modelo convencional de produção se propaga, por ser eficiente do ponto de vista puramente econômico, aumentam-se também os riscos de intoxicação por agrotóxicos e os males físicos, psíquicos e ambientais. Nesse sentido, sob a ótica socioambiental, estamos diante de uma injustiça social.

É entristecedor que boa parte de nós brasileiros, nos dias 24 e 25 de dezembro, ao compartilhar a sua mesa com familiares e/ou amigos, estará, também, como nos demais dias do ano, a compartilhar venenos. Em menos de um ano, o governo federal liberou mais de 430 tipos de agrotóxicos; centenas de venenos obtiveram licença para comporem os nossos pratos. Isso nos revela que a cadeia de produção agrícola predominante não tem se permitido dialogar com os defensores da transição agroecológica, que, resumidamente, é um processo gradual e multilinear de mudança de práticas e de manejo de agroecossistemas, extrativismo e sistemas agropecuários, que se faz via transformação das bases produtivas e sociais do uso da terra e dos bens naturais, e incorporação de conceitos e tecnologias de base ecológica. Energizados pelo espírito de luz do Natal, que reflitamos sobre tudo isso; reflexão essa não no sentido da discórdia e do ódio, mas pautada no diálogo e respeito para com os princípios básicos da vida.

Em 2020, que os projetos de lei que versam sobre o combate ao uso indiscriminado de agrotóxicos e sobre a agroecologia, como é o caso do Projeto de Lei nº 21.916/2016, na Bahia, que institui a Política Estadual de Agroecologia e Produção Orgânica, objetivando ações para a transição agroecológica, o desenvolvimento sustentável e a qualidade de vida das populações, sejam melhores compreendidos pela sociedade e seus representantes políticos.

Marcelino Galo
Deputado Estadual
Líder do PT na Assembleia Legislativa da Bahia